DIPLOMA DE JORNALISTA É PERFUMARIA


MANIFESTO CONTRA A HIPOCRISIA

        O diploma não está ameaçado porra nenhuma. Acabou. Não é por
acaso que a Rede Globo garante que continuará prestigiando as escolas
de “comunicologia” e que, por outro lado, irá abrir espaço a
especialistas de outras áreas. O PRBS, também, promete que vai
continuar valorizando os cursinhos da perfumaria. É só uma
flexibilização. A ditadura midiática ganha “ares de diversidade”. A
medida não altera porra nenhuma em termos da produção das
atuais ”informações ficcionais”, dos releases das assessorias de
imprensa. Associar “qualidade da informação” com diploma é deboche. Até
mesmo na história recente de Zerolândia esta associação é piada. Uma
redação com hegemonia de profissionais sem diploma era dirigida
pelo Lauro Schirmer. Dava para ler. Uma redação hegemonizada pelos com
diploma e direção de Marcelo Rech vai para história do lixo.
       Ninguém diz nada sobre a conjuntura em que o diploma foi
criado. Assim, como ninguém diz nada sobre a conjuntura atual, a do fim
do diploma. É preciso, no entanto, assinalar a característica básica
dos dois momentos: ditadura militar e ditadura midiática. Absoluta
falta de democracia. Ditabrandas. O MST pode dizer algumas coisas
interessantes sobre o tema. Na militar, as redações eram
“controladas” por intelectuais de esquerda. A ditadura precisava de
“profissionais” com outro perfil. No começo foi quase impossível. A
meninada (com o diploma) mandava “bala” contra a ditatura. E os
“velhos” jornalistas prestigiavam. No mínimo faziam vistas grossas. Na
atualidade, o fim do diploma “flexibiliza” e reforça os cursinhos
técnicos de comunicologia. Uma adeguação ao Deus Mercado. A grande
novidade – e a mídia corporativa precisa – será a formação
de showrnalistas especializados na transmissão de infográficos online.
Ou de “especialistas” em segurar microfone. Isso tudo é uma grande
piada. 
       Está aberta, no entanto, a possibilidade de implodirmos com os
cursos de “comunicologia”, pela esquerda. Está aberta a possibilidade
de formação de JORNALISTAS marginais, subversivos e da periferia. Este
cursos populares darão prioridade à formação do caráter. Não
esquecendo, é claro, que a esquerda  sabonete é um zero à esquerda. Uma
idéia anarquista. Em 20 anos de Fabico (Faculdade de Biblioteconomia e
Comunicação da UFRGS) nunca tive um aluno negro que não fosse africano.
Não tive em aula um estudante de JORNALISMO morador da Lomba do Pinhero
(periferia de PA). Estamos de olho na possibilidade de construção
de ESCOLAS DE JORNALISMO na periferia. Currículo de Agiprop (agitação e
propaganda). Contra o sistema. Luta de classes existe, sim. O
“showrnalismo” que a mídia corporativa faz ficará “melhor”. Zerolândia
ficará melhor “qualificada”. Especialistas (não diplomados) poderão
brilhar. 
       Comecei na profissão com Marcos Faerman (Marcão), trabalhei com
Pilla Vares, João Aveline e José Onofre; tive aulas de marxismo e de
jornalismo com Marco Aurélio Garcia, criador do primeiro Caderno de
Cultura de ZH; também tive algumas lições de jornalismo com Jefferson
de Barros. JORNALISTAS eram intelectuais e de esquerda. O diploma que
predominava era o de advogado. Nenhum jornalista da República de
Livramento (Bicudo e outros) tem diploma. Acho que o Trindade e o
Vieira também não. Boa parte da redação da Folha da Manhã, da
Caldas Junior, não tinha diploma. O decreto que cria a habilitação em
Relações Públicas, dentro dos cursos de “comunicologia”, foi assinado
pelo Jarbas Passarinho e o Delfim Neto. Não consegui o registro por ter
passado uma temporada na cadeia. Fui obrigado a fazer a faculdade.
Tenho o tal do diploma. Sou professor por um descuido do sistema. 
       Os atuais cursinhos técnicos de “comunicologia” continuarão
formando o pessoal que é treinado para escrever 30 linhas. (ponto) Bons
de telefone. (ponto) Ou então com qualificação para buscar release na
Secretária de Segurança Pública. (ponto). Para os que possuem o DNA da
profissão o diploma é um detalhe. E quando não existia Internet o cara
“cascateava” e não tinha como denunciar. A informação ficava restrita
ao meio profissional. Agora, o cara “cascateia” e um blogueiro (não
showrnalista) denuncia e é processado. A rede de conivências
corporativas é silenciosa. Só faz estardalhaço na defesa da “liberdade
de imprensa”, deles. Os atuais “showrnalistas”, todos diplomados, são e
continuarão sendo cartógrafos do sistema. Mapeadores serviçais das
elites. Nenhum dos 30 melhores alunos que tive em 20 anos de Fabico
trabalhou em Zerolândia, poucos andaram (passagens rapidíssimas) por
outros veículos da mídia  corporativa e todos, literalmente todos,
exercem a profissão comprometidos com a vida. Acho que dei minha
contribuição na formação destes JORNALISTAS. Para todos eles o diploma
foi um detalhe. Uma imposição burocrática e autoritária. Quase sempre
de professores que não deram certo na profissão. Ou de acadêmicos que
nunca passaram nas proximidades de uma redação.
        Professores qualificados com o dinheiro público (mestrado e
doutorado), com pouco tempo de serviço nas salas de aula das
instituições públicas, hoje aposentados, trabalham nas particulares. E,
estranhamente, professores que passaram grande parte de suas
vidas lecionado nas universidades privadas acabam se aposentando pelas
instuições públicas. Concursados, é claro. É a rede. Sim, a rede de
conivências corporativas.
       O que vai contecer? Não sei. A todos os piratas, hackers e
anaquistas  e loucos, de um modo geral, desejo sucesso na multiplicação
dos espaços de liberdade. A clandestinidade exige atenção, humildade,
intuição e pode ser o caminho para o exercício do JORNALISMO com o
velho sentido da profissão. Propomos a multiplicação de planfletos
eletrônicos. A realização de bacanais. De orgias eletrônicas
planfletárias contra o sistema. Pela realização dos prazeres criminosos
e ilegais. Abandonamos a idéia dos piquetes. O melhor é vandalizar. Não
significa porra nenhuma protestar. Queremos atos de desfiguramento. Não
aceitamos os estúpidos disperdícios como, por exemplo, a imensa
quantidade de papel gasto em jornais de merda. Lutamos pela
destruição dos símbolos dos impérios da “comunicologia”. Zerolância é
criminosa. Aliena. O diploma não está ameaçado porra nenhuma. Nunca
esteve. Acabou. (ponto) Fotografem a miséria conversando com os
miseráveis. Aprendendo com eles. Pela ação dos marginais, dos que estão
à margem, avançamos contra a barbárie.
       Jornalistas, como agentes da subversão, nunca se inscrevem para
concorrer a prêmios. E muito menos ainda para o Prêmio Ari-Gó. Não são
os “showrnalistas” que são premiados, mas as empresas para quais
vendem  a alma. É tudo matéria 500. É parte da política de relações
públicas. A Esso criou o Repórter Esso para combater a campanha do
Petróleo é Nosso. E o “camarada” Lula poderá ser presidente do Banco
Mundial.
        Viva Hélio Oticica e os parangolés!!!  Queremos tudo
Zensentido. Glauber Rocha não tinha diploma de porra nenhuma. E,
assim, ameaçava a burguesia. Como dizia o velho guerreiro Chacrinha:
“quem não se comunica se trumbica”.               

                        Mil desculpas
                        se às vezes
                                perco o ímpeto
                        radical
                                       Da raiz
         PALAVRAS como estiletes
                                    CORTANTES. 

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